“- Os Andes, no inverno, não devolvem os homens…” Mas nós continuávamos a procurar e durante cinco dias seguidos, sobrevoamos aquelas montanhas do fundo da Patagônia, cujos picos se erguiam até sete mil metros. “- É o inverno. Esse companheiro de vocês, se sobreviveu à queda do avião, não sobreviveu à noite…A noite lá em cima, quando passa sobre o homem, transforma-o em gelo”, disseram-nos os oficiais chilenos. Afinal, depois de sete dias, no intervalo de dois vôos, um homem grita: “-Guillaumet está vivo!” Partimos imediatamente.Quarenta minutos depois, chorávamos todos e abraçavamos com alegria o nosso amigo. Ele estava ali, vivo, ressuscitado !... Foi então, Giullaumet, que ainda tonto, você exprimiu, na sua primeira frase inteligível, um admirável orgulho da espécie: -“ O que eu fiz, palavra que nenhum bicho, só um homem, era capaz de fazer…” E você contava:” Caí, o avião capotou…Esperei quarenta horas num buraco que cavei na neve, sob a carlinga do avião.Quando a tempestade amainou, comecei a andar. Andei cinco dias e quatro noites…”
Enquanto falava, eu o imaginava andando, sem um bastão, sem víveres, escalando gargantas de 4500m, sob 40º de frio. Na neve, perde-se o instinto de conservação.Depois de dois, três, quatro dias, tudo o que se deseja é o sono… E você continuava a contar: -“Eu pensava: - minha mulher…Se ela crê que estou vivo, ela crê que estou andando. Se não continuar andando, serei um covarde…Também os amigos, eles crêem que estou andando…”
( Fato verídico, narrado por Antoine de
Saint-Exupéry no livro “Terra dos homens”)
- adaptação do texto-