Uma certa Aracy...
Ela, uma paranaense de Rio Negro foi morar com uma tia na Alemanha, após a sua separação matrimonial.Por dominar o idioma alemão e francês, fácil lhe foi conseguir uma nomeação para o consulado brasileiro em Hamburgo. Acabou sendo encarregada da seção de vistos.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil a célebre Circular 1.127, que restringia a entrada de judeus no nosso país. É aí que se revela o coração humanitário de Aracy.Ela resolveu ignorar a circular que proibia a concessão de vistos a judeus.
Por sua conta e riscos, à revelia das ordens do Itamaraty, continuou a preparar os processos de vistos a judeus. Como despachava com o Cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Quantas vidas terá salvo das garras nazistas! Quantos descendentes de judeus andarão pelo nosso país, na atualidade,desconhecedores de que devem a vida a essa extraordinária mulher?
O cônsul adjunto à época, seu futuro marido, João Guimarães Rosa, não era responsável pelos vistos. Mas sabia o que ela fazia e a apoiava.
Eles se conheceram em Hamburgo, na Alemanha às vésperas das segunda Guerra mundial. Ele, menino pobre, viu na carreira diplomática uma maneira de conhecer o mundo. Em 1938, prestou o concurso para o Itamaraty e foi nomeado cônsul adjunto na Alemanha.
Em Jerusalém, Israel, no Museu do Holocausto, há uma placa em homenagem a essa excepcional brasileira. Fica no bosque que tem o nome de Jardim dos Justos entre as nações.
Quando homenageada em Jerusalém |
O nome dela consta na lista de 18 diplomatas que ajudaram a salvar judeus, durante a Segunda Guerra. Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, é a única mulher. Mas seu denodo, sua coragem não pararam aí. Em 1985, em sua última viagem ao exterior, em Jerusalém, em Keren Kayemet foi homenageada com o seu nome dado a um bosque, que ela mesmo inaugurou com um discurso. Em Washington também mais uma homenagem no Museu do Holocausto. No Brasil… Nada.
Dona Aracy como era chamada, salvou judeus na Alemanha nazista, enfrentou as leis anti-semitas do Estado Novo, e ainda escondeu perseguidos políticos, como intelectuais, compositores, cantores e artistas, entre eles Geraldo Vandré, durante a ditadura militar brasileira. Enfrentou, portanto, nada menos que três regimes autoritários, conhecidos por sua violência inclemente.
Reservada, Aracy enviuvou em 1967 e jamais voltou a se casar. Recusou-se a viver da gloria de ter sido a mulher de um dos maiores escritores de todos os tempos. Em verdade ela tem suas próprias realizações para celebrar. Em 2008 fez 100 anos. Pouco se recorda desse passado, cheio de coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade.Mas sua história, e seus feitos merecem ser lidos por todos, ensinados nas escolas. Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para os dias que vivemos. Aracy desafiou o nazismo, o Estado Novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar dos anos 60.
Uma mulher que merece nossas homenagens, uma heroína. Uma verdadeira cidadã do mundo.!